03/01/2025
A AUTORREGULAÇÃO
Todas as atividades humanas são reguladas. Mesmo em nossa maior intimidade, em nós mesmos, como Freud nos indicou na apresentação do conceito moral do superego, instância psíquica na qual nossas ações instintivas são reguladas, numa espécie de autorregulação para o convívio em sociedade.
GRATIFICAÇÃO INSTANTÂNEA Imagine-se vivendo uma eterna primeira infância, quando você chorava se tinha fome, arrancava um boneco das mãos do amigo porque queria o brinquedo, dava um pontapé no gatinho da sua avó só porque achou o miado dele engraçado. Bebês estão sempre com o id no controle, já que é a única instância psíquica que, segundo Freud, está presente desde o nascimento. Movido pelo princípio do prazer, o id é a parte da mente que quer gratificação imediata de todos os seus desejos e necessidades. E quando o ID é desgovernado também na vida adulta? Pois é, o cartão de crédito é uma incrível e exemplar ferramenta que promove supostas recompensas, instantâneas e ilusórias.
EGO (O MODERADOR)
Ele é uma espécie de mediador entre a impulsividade do id e as condições externas, fazendo a interação entre a sua personalidade e as leis do seu país, a cultura do seu tempo, as regras e os costumes de etiqueta e as normas do bom convívio social.
O ego pode ser também chamado por “Eu”
Na condução do cavalo selvagem que existe dentro de cada um, o ego pesa os custos e benefícios dos desejos do id antes de liberar este ou aquele comportamento. É a rédea atenta e atuante para a frenagem do ávido, inconsequente e imediatista.
SUPEREGO
Ele é um tipo de árbitro de futebol cheio de cartões amarelos e vermelhos no bolso. Essa é a parte moral da nossa personalidade, a fonte dos nossos pensamentos de autocontrole que vão servir para empatar o jogo contra os impulsos “e os gols de mão” do id.
Curiosamente, a neurociência também descobriu mecanismos cerebrais que freiam nosso impulso de só agir por prazer. Em 2012, a Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, comprovou por ressonância magnética que temos uma área no cérebro, o córtex pré-frontal dorsolateral, que entra em ação sempre que precisamos de autocontrole.
E O "CORO COME" NO RINGUE
O conflito entre essas três instâncias é um verdadeiro MMA no nosso ringue psíquico. E quem toma porrada é sempre o ego. De um lado, precisa dar uma chave de braço no id para conter seus impulsos agressivos e sexuais –, mas não com tanta força que o impeça de aliviar a tensão que um desejo impõe. De outro, precisa suportar os cruzados do superego, que quer construir o indivíduo mais certinho da humanidade. “Vemos esse ego como uma pobre criatura submetida a uma tripla servidão”, diz Freud, “que sofre com as ameaças de três perigos: do mundo exterior, da libido do id e do rigor do superego”.
CONTEXTUALIZANDO
Alguém que tenha o id hiperativo tende a ser excessivamente impulsivo e incontrolável na busca por satisfazer seus desejos. É o perfil clássico do psicopata, a pessoa que não pensa duas vezes em pisar nos outros para atingir o que quer.
Já um superego dominante gera um indivíduo moralista, paralisado pelos impedimentos que sua mente impõe a vida toda. É um perfil que se encaixa bem nos fanáticos religiosos com condutas amparadas no fundamentalismo das proibições e julgamentos sumários.
E POR FIM
A boa notícia é que esse conflito é produtivo também. As três instâncias trabalham juntas na formação do seu comportamento. O id cria as demandas, o ego acrescenta as necessidades da realidade, e o superego incorpora a moral à ação. Segurando a onda dos elementos mais radicais dessas influências, o resultado pode ser um indivíduo em paz consigo mesmo. Que assim seja!
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